terça-feira, 31 de março de 2015

A cultura em tempos de crise


O que esperar desse ano, diante de um quadro tão confuso?

Olá.

Perdoe-nos por tanto tempo sem postar. De coração. E bem-vindos de volta.


O difícil momento econômico pelo qual passa o Brasil atualmente pode influir no mercado cultural? A resposta, infelizmente, é sim. Vivemos num quadro em que a economia do Brasil praticamente parou, e nesse contexto, certamente tornou a vida de empreendedores culturais mais difícil.

Sem querer entrar detalhadamente nas razões que levaram o país a enfrentar essa crise, o fato principal é que existe uma inflação maior e mais resistente do que nos últimos anos, de modo que a renda média das pessoas caiu.

E com menos renda, o dinheiro que sobra para gastar com cultura e entretenimento é menor. Por outro lado, quando o cenário começou a se mostrar mais adverso, empresários começaram a reavaliar investimentos, despesas e custos. 

O que esperar desse ano, diante de um quadro tão confuso?




Duas reportagens recentes ajudam a entender o que está acontecendo.

A primeira, da Folha de S. Paulo na última quarta-feira, 25 de março, intitulada "Arrocho Cultural" mostra que a crise provoca cortes no orçamento da cultura nas três esferas de governo ao mesmo tempo que abala o setor privado, ao ameaçar projetos financiados pelas leis de incentivo.

O texto dos jornalistas Beatriz Montesanti, Maria Luísa Barsanelli, Raquel Cozer e Silas Martí relata que a Pinacoteca de São Paulo cortou 15% do seu orçamento de R$ 27 milhões e vai demitir 29 funcionários, além de reduzir horário de abertura às quintas.

No Rio, a Biblioteca Nacional dispensou 79 estagiários e reduziu horáario de funcionamento para poupar energia. A reportagem ressalta ainda que O Ministério da Cultura teve corte de verba em 2015 em relação a 2014 - R$ 3,26 bilhões, contra R$ 3,32 bilhões, respectivamente.

A reportagem ressalta ainda que a elevação do dólar aumentou a dificuldade para a realização de montagens de teatro e exibição de filmes estrangeiros, bem como exposições de artistas internacionais.

Dois dias depois, 27 de março, o jornal Valor Econômico publicou uma grande reportagem da jornalista Ana Paula Souza (Como fazer o show continuar, para assinantes) sobre a apreensão no setor diante dos problemas políticos e econômicos no Brasil, ao mesmo tempo que o ministro Juca Ferreira fala em mudar as regras da Lei Rouanet.

Segundo a reportagem, entre outros aspectos, o mecanismo de incentivo fiscal federal mobilizou R$ 1,2 bilhão no ano passado, mas que a ideia do ministro é corrigir distorções e vícios criados pela transferência à iniciativa privada do poder de decidir onde serão alocados os recursos públicos.

Pela ideia inicial do ministro, se um projeto pode ser 100% abatido do imposto de renda de empresas patrocinadoras, a mudança faria com que a renúncia passasse a ser de 80%, ficando a empresa responsável por arcar com os 20% restantes.

Entre outros pontos, a reportagem mostra que entre os dez maiores captadores de recursos no ano passado estão organizações sociais e fundações. Ao mesmo tempo, a lista dos maiores patrocinadores inclui estatais, mas a Petrobras não participou do Top 10 de 2014.

Por outro lado, produtores estão apreensivos com o risco de se ter redução de interesse em patrocínio de futuros projetos com a mudança da lei.

Em paralelo, assistimos a uma enxurrada de cortes de pessoal na Band, que encerrou atrações regionais e nacionais e tenta adequar seus custos ao contexto de crise. Neste caso, a surpresa se deu porque a emissora havia anunciado a nova grade em fevereiro e uma das novidades era o novo cenário do programa.

Algumas situações são esperadas para este ano, o que demanda atenção de todos.


- Menos dinheiro federal - com ajuste fiscal, para acertar as contas, o governo tende a liberar menos recursos para atividades que não sejam consideradas essenciais ou prioritárias (por exemplo, salários). O Ministério da Cultura teve corte de orçamento para 2015.

- Menos dinheiro estadual - da mesma forma, estados estão com menos recursos em caixa, com atrasos de repasse de recursos do governo federal, ou arrecadação menor de ICMS por causa da retração da atividade - algo evidente, pois menos consumo implicam em menos impostos.

Além disso, o Rio de Janeiro, grande fonte de recursos para a cultura, está às voltas com menos caixa por essas razões e pela queda nos royalties do petróleo (o preço do barril caiu mais de 50% no mercado externo). A crise da Petrobras, investigada pela Operação Lava-Jato, também contribuiu.

- Menos patrocínios - com um ano mais difícil, as empresas tendem a adequar seus orçamentos, ficando mais seletivos em relação a seus projetos e evitando produções muito caras, principalmente se não houver a certeza de retorno.

- TV paga estável, TV aberta em baixa - Depois de assinar um pacote de TV paga, dificilmente um cliente desiste do serviço. Há um possível downgrade no pacote, para adequação aos tempos mais difíceis. Até agora não se espera uma queda pronunciada na base de assinantes. Por outro lado, a TV aberta, fortemente dependente dos anunciantes, precisa cortar custos, o que causa demissões e fim de atrações.

- Menos público - Exceto produções infantis e de nicho, espera-se uma queda generalizada de público em cinemas, teatros e shows em 2015, devido ao comportamento mais conservador do público. Aqui, conteúdo será fundamental.


A única certeza é que crises passam e essa também vai passar. Espera-se que logo.

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