domingo, 1 de março de 2015

Gilberto Gil, sobre axé, pagode e sertanejo: "oportuniza a capacidade de expressão, dá espaço para a expressão"

Há 16 anos, Gilberto Gil disse que emergência de músicas como axé, pagode e sertanejo deram oportunidade de acesso e de expressão a artistas ligados a esse gênero.

 "Eles estão fazendo a música deles. Qual é o problema? Eu não vejo problema nenhum nisso".
(Foto: Marcos Hermes - Divulgação do cantor)

Olá.

Recordar é viver.

Há quase 16 anos, no dia 1°de março de 1999, o cantor Gilberto Gil participou do programa Roda Viva, da TV Cultura, onde foi entrevistado por vários jornalistas. Uma das perguntas foi a da jornalista Lorena Calábria, que naquela época era apresentadora do programa Metrópolis, da própria Cultura.

A pergunta dela, em tom de afirmação, foi a seguinte: A axé music defende o seguinte argumento: pelo menos no Brasil, neste momento atual, a gente está ouvindo mais música brasileira na rádio do que nas décadas passadas, quando predominava a música americana.

A resposta do Gilberto Gil foi a seguinte:

"Um outro argumento é, por exemplo, a emergência de setores populares, não só no axé, mas no pagode, no sertanejo. Gente que não tinha espaço, gente humilde, gente pobre, da periferia social brasileira. A música brasileira era basicamente uma norma quase culta, era dominada pelos universitários; todos nós, eu, Caetano, Chico Buarque, Edu Lobo, os meninos do Rio, de Salvador, de Belo Horizonte, de São Paulo. 

Nas famílias de classe média, na pequena burguesia que tinha acesso à universidade, aquilo que eu estava falando, que sabíamos dos filósofos, sabíamos isso e aquilo, a informação de fora, que operavam aqui, os símbolos da modernidade, a quase pós-modernidade; enfim, e fizeram aquilo que chamaram de a boa música brasileira, e os poetas e Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes etc.

Enquanto isso tem um povaréu brasileiro, uma massa enorme de brasileiros na periferia das cidades, que estavam chegando, mal-educados, pouco educados, maltratados, sem hospital, sem isso, sem aquilo, mas cresceram, fizeram um milagre brasileiro de sobreviver, de sobreviverem. Não fazem parte das estatísticas da mortalidade infantil, venceram a mortalidade infantil do Brasil. Que se faz com eles? Axé music, música sertaneja, pagode etc. Eles estão fazendo a música deles. Qual é o problema? Eu não vejo problema nenhum nisso.

"Ah, mas o quê?" São meninos com escolaridade média baixa em muitos casos; então querem que eles escrevam sobre o quê? Sobre mecânica quântica, como eu? Não vão! Essa música oportuniza o acesso, oportuniza a capacidade de expressão, dá espaço para a expressão, dá dinheiro da renda para esse pessoal. Eles dominam a TV Globo, o SBT, entendeu? Preenchem o espaço, estão lá, aos sábados, no programa da Xuxa".

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