terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Jornalismo na Telona - Spotlight

A mensagem do filme é: jornalismo é essencialmente independência e devoção aos fatos

Elenco de Spotlight: apuração de caso de pedofilia por padres tornou-se uma história instigante (Foto: Divulgação)


Olá.

Este é o primeiro post da série Jornalismo na Telona, onde eu faço um miniperfil, uma minirresenha dos filmes que retratam o jornalismo, essa profissão, coincidentemente a minha, que é tratada com o fascínio que exerce sobre o mundo inteiro há muitos anos.

O plano não é de fazer uma análise crítica dos filmes, ainda que eventualmente eu dê algum palpite ou opine sobre eventuais aspectos. O objetivo é chamar a atenção para histórias que tiveram o jornalismo como tema central.

O primeiro deles é Spotlight - Segredos Revelados, o mais recente filme relacionado ao jornalismo e sua prática diária. A história é baseada totalmente em fatos reais. Conta o processo de apuração dos casos de pedofilia ocorridos em Boston até a publicação da reportagem, em 2002, mostrando que pelo menos 70 padres envolveram-se em tais casos e que a Igreja Católica acobertava os casos, com acordos extrajudiciais e transferências de paróquias.



O jornal Boston Globe venceu o prêmio Pulitzer, o mais importante dos Estados Unidos, com a reportagem. Também fez com que uma enxurrada de vítimas em todo o mundo denunciassem casos semelhantes que foram ocultados.

A apuração foi realizada por uma equipe de jornalismo investigativo, conhecida por Spotlight (daí o nome do filme), holofote. É a editoria criada para realizar grandes reportagens investigativas, que demandam tempo e dinheiro e precisam ser totalmente esclarecidas. Sair da sombra, jogar luz. 

No elenco, Michael Keaton, como o editor da Spotlight, Walter Robbinson (Robby), Rachel McAdams, como a repórter Sacha Pfeifer, Mark Ruffalo, como o reporter Michael Rezendes, e John Slattery, como Ben Bradlee (sim, aquele do Watergate).

No caso em questão, as investigações foram conduzidas pelo editor-chefe do jornal, recém-contratado, vindo de Miami e judeu - Mary Baron, interpretado por Liev Schreiber; e contou com a apuração de um repórter português (Rezendes, de Ruffalo). Uma das principais fontes de Rezendes era um advogado armênio, Mitchel Garabedian, incorporado por Stanley Tucci.

O fato de serem outsiders ajudou a quebrar a inércia que rondava as investigações que o jornal chegou a fazer no passado, mas que não avançou, dada a origem católica de grande parte da cidade, inclusive de repórteres e editores. Afinal de contas, como explicar para um amigo, vizinho ou parente que possivelmente o padre da paróquia, da comunidade, estaria molestando crianças?

Sem querer fazer spoilers, a mensagem do filme é: jornalismo é essencialmente independência e devoção aos fatos.

A história é instigante e tem todos os elementos de conflito que são necessários na elaboração de um roteiro - para isso, basta observar o bê-a-bá de redação de roteiros de cinema. 

Evidentemente, há alguns "buracos", pontas soltas, que não interferem no resultado final, e que não impedem que Spotlight venha a se alinhar na lista de filmes necessários para se entender como funciona um jornal. Como diz a Folha de S. Paulo, o filme expõe as entranhas da religião e da imprensa. 

O interessante do filme é exatamente isso, os elementos diários de uma redação estão ali: a chegada de um novo editor, a falta de tempo, a pressão da Igreja Católica, a dificuldade de se obter informações e confirmações de fatos e dados, especialmente quando era necessário contatar vítimas dos padres envolvidos em atos de pedofilia, os atentados terroristas de 11 de setembro, que mudaram temporariamente a pauta do jornal, a vida pós-venda do jornal (o Boston Globe havia sido vendido algum tempo antes de iniciar a apuração, entre outros.

O filme foi produzido por Tom McCarthy e Josh Singer e dirigido por McCarthy.

Meu destaque é para Tucci, no papel do advogado Garabedian, ao incorporar perfeitamente a característica de advogado conceituado, ocupadíssimo e conhecedor da causa contra o Clero. Se você não liga o nome à pessoa, ou se não se lembra de onde o viu, Tucci foi o pobre do Nigel em O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada), de 2006.

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